Hoje vi que o ônibus é realmente um bom lugar para pensar sobre tudo que
sua vida é, mas também o que ela não é. Pela primeira vez admiti para mim mesma
que eu não sou, nem nunca vou ser aquela mulher que sempre desejei e até achava
que era. Sabe aquela mulher forte, independente que não liga para o que os
outros falam? Aquela que é super organizada, que sabe controlar seus
sentimentos, principalmente quando se trata do amor. Aquela que ama seu
trabalho ou faculdade e que consegue ser feliz o tempo todo porque ama o que
faz. Aquela que sai para os barzinhos ou baladas para beber com os amigos e
conversar até altas horas sem se preocupar com o dia seguinte. Aquela que tem
um estilo próprio com roupas legais e diferentes. Aquela que fala três idiomas
e adora arte. Aquela ousada, corajosa
que ama o próprio cabelo e vive com as unhas sempre pintadas? Essa definitivamente
não sou eu. Tudo bem posso até ter um pouco de algumas dessas características,
mas no fundo essa mulher eu nunca serei. A que realmente sou é aquela que reúne
forças nas horas que precisa, mas às vezes fraqueja e chora. Aquela que é
desastrada, que coloca as chaves em um lugar num segundo e no outro já não sabe
onde está e nem por onde começar a procurar em meio à bagunça do quarto. E não
vou nem falar da bagunça do coração, esse vive mais bagunçado que o guarda
roupas dela. Controlar os sentimentos é algo que essa realmente não sabe fazer,
porque ela vive de amor. Ela é aquela que suspira assistindo comédia romântica,
aquela que assiste clipes de músicas em espanhol porque é tão apaixonante,
aquela que é viciada em romances e quando se trata do real a independência do
coração passa longe. Nessas horas ela é o amor por inteiro. Sobre o bar e as
baladas com os amigos se resume a uma conversa por mensagem com aqueles amigos
contados no dedo e, às vezes, vira uma saída a sorveteria ou cinema de meses em
meses porque ela é aquela que prefere ficar no quarto no computador ou presa em
um livro. Estudar e trabalhar pode até deixa-la feliz, mas tem sempre o dia frustrante
da semana em que tudo a faz se arrepender de ter dito não a sua cama às seis da
manhã. E a coisa se complica quando seu cabelo decide amanhecer um bagaço de
laranja. Mas qual foi o dia que não amanheceu assim? Na hora de se vestir seu estilo é geralmente
aquele que cabe no bolso e que a deixe confortável. Ela é aquela que insiste em pintar as unhas
antes de sair e acaba borrando tudo, então na maioria das vezes vivem sem
esmaltes. Sobre idiomas? Ela arrisca um “I feel good” seguido por um idioma que
nem ela mesma sabe qual é. Aquela que gosta de tanta coisa boba e que ri de
piadas sem graça.
Mas quer saber? Ter aceitado que
não sou “diferente” como imaginava não foi assim tão difícil. Gosto de mim e
essa minha vida “comum” me faz feliz.